A evolução da relação médico-paciente apresenta uma possibilidade real de ampliar e integralizar o sistema de saúde com a Telemedicina. “Existe uma melhora da relação médico-paciente, porque ele fica mais acessível e assertivo. Você facilita o contato do paciente, onde quer que ele esteja, com o melhor especialista. O paciente pode ter uma informação correta sobre o seu caso. Telemedicina é uma forma de estar constantemente e de forma personalizada, ao lado do paciente a um custo permissivo”, apontou o gerente médico do Hospital Israelita Albert Einstein, Eduardo Cordioli.
Em relação à redução do custo sistema de saúde, a telemedicina reduz o desperdício, pois melhora a eficiência, colocando o paciente certo no lugar certo, melhorando sua experiência e dando acesso ao sistema ao atender seus anseios de forma mais rápida, melhorando a saúde da população.
Na cardiologia, a telemedicina tem ampla aplicação, sendo um dos campos mais beneficiados com a inovação tecnológica. Segundo o presidente eleito da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Marcelo Queiroga, um dos autores do artigo ‘Janela para o Futuro ou Porta para o Caos?’, que trata sobre a regulamentação da telemedicina, a questão reúne um conjunto de iniciativas que tem como finalidade a prevenção, diagnóstico e tratamento de enfermidades com o uso de tecnologias de informação e comunicação, que se destina especialmente a áreas remotas, onde não há disponibilidade de recursos humanos suficientes para atender essas demandas.
Se empregada na atenção primária, por exemplo, a telemedicina funciona como ferramenta de suporte à decisão clínica. “Com a tecnologia mais evoluída, isso ficou mais fácil e o custo diminuiu. Antes, precisávamos de plataformas dedicadas, mas hoje não. Com a ‘internet das coisas’, por exemplo, é possível fazer um eletrocardiograma e enviar pela internet”, exemplificou Queiroga. Nesse contexto, a questão ética e legal leva em consideração as questões de confidencialidade, uma vez que se lida com informações privativas de pacientes. “A Resolução do CFM, mesmo revogada, mostrou que há uma preocupação com essas diretrizes em relação à confidencialidade e à segurança da transmissão dos dados. Por isso, não se pode usar qualquer rede: tem que ter padrões próprios e regulamentações específicas”, afirmou.
A regulamentação, para o cardiologista, não é uma questão complicada, mas trata-se de arranjos entre a própria classe médica. O principal, no entanto, é o paciente. “Os pacientes aceitam bem esse tipo de tecnologia. Do ponto de vista da deontologia médica, o que se coloca em xeque em relação à resolução que foi revogada é a prescrição sem exame presencial do paciente”, explicou.
O presidente da SBC lembrou que o código de ética médica, no artigo 37, diz que é vedado ao médico a prescrição de tratamento sem exame de direto do paciente. E no parágrafo único diz que o emprego de tecnologia de informação e comunicação deverá ser regulado pelo CFM por meio de resolução própria. “Por outro lado, temos a necessidade de oferecer todos os meios de diagnóstico e tratamento disponíveis, que sejam cientificamente comprovados no benefício do paciente”, pondera.
Também já existem estudos econômicos que validam o custo x efetividade dessas condutas. Não há dúvida da utilidade e de que essa questão precisa passar por um processo regulatório mais apropriado. “A classe médica tem que colaborar na implementação da telemedicina para que haja benefício ao paciente, com respeito às normas legais já existentes”, disse o presidente eleito da SBC.
O médico e CEO da Medportal, Thiago Constancio no entanto, questiona: como fazer tudo isso se conectar? Ele ressalta a importância de pensar a regulação levando em conta também a capacitação dos profissionais que atuarão na saúde digital. “Como preparar uma geração que vai entregar o futuro digital da melhor maneira possível, gerando mais benefícios do que danos aos nossos pacientes e profissionais? Não basta apenas levar a inovação para a instituição. Isso não é suficiente. Não basta adquirir a tecnologia e o equipamento. É preciso encontrar o modelo que as pessoas se identifiquem, e o paciente, que está cada vez mais empoderado, seja beneficiado. A ideia é poder mensurar, ao longo do tempo, os ganhos sistêmicos para o sistema de saúde – público e privado. Tecnologia por tecnologia não resolve nenhum problema”, ressaltou Constancio.