Uma troca de exame que condena uma pessoa à morte, erroneamente. Esse é o pano de fundo da trama do folhetim das 19h da TV Globo. Em Bom Sucesso, além da troca de resultados de Alberto (Antonio Fagundes), que tem um grave quadro de leucemia, com os de Paloma (Grazi Massafera), a novela traz outra questão à baila: como o médico deve dar a notícia para um paciente sobre o seu curto prazo de vida?

Não é só na ficção que casos como esse acontecem. Na realidade, a situação também é bem próxima. Dados da Joint Commission International (JCI), maior agência verificadora e certificadora da qualidade em saúde do mundo – representada no Brasil pelo Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) –, mostram que a má comunicação é responsável por mais de 60% dos eventos adversos nos hospitais de todo o mundo.

Para evitar situações como essas, a JCI determinou mais de 1.200 requisitos de verificação, contidos em cerca de 300 padrões de segurança que devem ser cumpridos pelos hospitais. Um dos padrões sugeridos para evitar erros desse tipo ocorrido com os personagens Alberto e Paloma é a identificação correta de pacientes. Nele, a JCI recomenda que o profissional confira os dados pessoais do paciente, solicitando seus documentos de identificação, além de registrá-lo com pelo menos dois itens que o diferenciam dos demais, como por exemplo, nome do pai ou da mãe e data de nascimento. Ou seja, que haja mais de um padrão de checagem de que um exame ou um medicamento seja direcionado realmente àquele paciente. “Recomendamos ainda que os frascos de exames e medicamentos, por exemplo, sejam identificados com o nome do paciente, o nome do medicamento e a forma de administração, ou, no caso do folhetim, do nome do exame”, diz Heleno Costa Jr, CEO do CBA. O representante da JCI no Brasil aponta alguns cuidados na análise laboratorial para evitar casos como o de Alberto e Paloma: “ao coletar o sangue, o profissional deve rotular com etiquetas padrão todos os frascos, na presença e com conferência conjunta com o paciente, antes do início da coleta, evitando assim, qualquer possibilidade de troca na identificação dos fracos/tubos/potes onde são armazenadas as amostras. O paciente deve validar ainda os respectivos dados nos formulários/documentos, onde são solicitados e encaminhados os pedidos de exames pelo médico e para o serviço de laboratório ou de imagem que realiza o exame”. O mesmo padrão de procedimento de segurança deve ser feito para pacientes submetidos à realização de exames de imagem ou invasivos, como radiografias, tomografia, ressonância, endoscopia, hemodinâmica ou outros.

“Você vai morrer!”

Em Bom Sucesso, Paloma fica em estado de choque ao receber do médico a notícia de que só tem seis meses de vida. Essa situação acontece regularmente, mas como dizer a uma pessoa que ela está em estado terminal? De acordo com as normas sugeridas pela JCI/CBA, é primordial que os resultados de exames considerados críticos ou graves sejam definidos e listados pela instituição, mediante discussão de especialistas. “Quando identificados na análise laboratorial ou de imagens/endoscopias, deve ser relatado ao paciente ou a seu responsável, e também ao médico responsável pelo paciente, por meio de profissional devidamente capacitado em transmitir más notícias. No caso do comunicado direto ao paciente, é fundamental que o profissional tenha formação e qualificação específicas para esse fim”, ressalta Heleno Costa Jr. O dirigente do CBA reitera que, em caso de paciente em que haja a constatação de quadros ou condições sem possibilidades clínicas de reversão de diagnóstico, com indicação de descontinuar ou evitar a realização de tratamentos desnecessários, é recomendável classificá-lo como situação de terminalidade ou de cuidados paliativos. Em ambos, “a atuação de profissionais devidamente capacitados para esse propósito é fundamental, uma vez que é primordial cuidar do indivíduo, não mais paciente, em suas emoções, sentimentos, conforto e apoio, como necessidades principais e não mais de sua doença”, aponta.