É preciso diminuir erros na saúde

Formação profissional é carente de qualidade e segurança assistencial

Por Heleno Costa Junior*

Ser atendido em hospital ou outra instituição de saúde é seguro? Estudos apontam que “não” ainda é uma resposta recorrente. A Organização Mundial da Saúde e outras organizações fazem um alerta sobre a alta incidência de eventos adversos, erros, incidentes ou falhas cometidas nas instituições de saúde durante a assistência prestada aos pacientes. No Brasil, estudo da Universidade Federal de Minas Gerais apontou a morte de 2,47 pacientes a cada três minutos em hospitais públicos e privados. O portal Notivisa — da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que atende ao Programa Nacional de Segurança do Paciente, criado pelo Ministério da Saúde — inclui a cada dia novos números de notificações de óbitos ocorridos nas instituições por conta de eventos adversos inesperados, imprevistos, categorizados como preveníveis.

Por que pacientes morrem em locais onde deveriam ser curados? Diferentes motivos para esse fato têm sido ratificados em estudos nacionais e internacionais. No entanto, um fator tem se destacado nesse universo: o comportamento humano, gerando, principalmente, atos de negligência, omissão ou desatenção diante de normas, procedimentos, diretrizes ou protocolos estabelecidos para garantir a segurança no cuidado.

A raiz do problema vem desde a graduação na formação do profissional, incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros da área de saúde. A discussão ou ensino sobre qualidade e segurança assistencial não faz parte do currículo atual. Soma-se ainda a sobrecarga de trabalho no esforço implacável de trabalhar em dois, três empregos para buscar remunerações viáveis. A tecnologia, embora busque aperfeiçoar a assistência, também traz desafios que podem, ao contrário da lógica, contribuir na ocorrência de eventos imprevistos, uma vez que o uso dessas tecnologias também impõe graus de especialização e de qualificação que muitos profissionais de saúde não alcançam em sua formação ou em seus ambientes de trabalho.

Nesse cenário é necessário que ações planejadas e integradas sejam definidas por autoridades, entidades associativas e instituições de saúde, de forma conjunta. A formação profissional deve ser, de forma mais imediata, revista e atualizada, para incluir os novos desafios e elementos da ciência contemporânea que influenciam a segurança assistencial. Às autoridades cabe a possibilidade de estabelecer ou aperfeiçoar os mecanismos de avaliação e de controle da qualidade e segurança das instituições de saúde. As entidades associativas, sejam públicas ou privadas, devem se integrar de forma mais planejada no objetivo de mobilizar ações e desenvolver programas estruturados para melhorar continuamente o envolvimento de profissionais e de pacientes na segurança dos cuidados.

Por fim, as próprias instituições de saúde, como as que cuidam diretamente do paciente, devem assumir o papel de prevenir ou de mitigar, de forma pró-ativa, a possibilidade da ocorrência de eventos adversos, por meio da qualificação e capacitação permanente de seus gestores e profissionais, com a adoção de protocolos, normas, procedimentos e diretrizes, aplicadas de forma efetiva para uniformizar e estruturar a prestação da assistência em seu melhor nível possível de qualidade e segurança.

 

* Heleno Costa Junior é Mestre em Avaliação de Sistemas e especialista em Administração Hospitalar. É superintendente do Consórcio Brasileiro de Acreditação, organização avaliadora da qualidade em saúde.